O desempenho dos quatro clubes, em termos gerais, é bastante sólido. Antes do torneio, ninguém ousaria colocar um asterisco que fosse na hipótese de que os quatro representantes do país obtivessem a vaga nas oitavas de final, exatamente como aconteceu.
Com exceção do Flamengo, também é verdade que houve oscilação na fase de grupos. E chama a atenção que algumas das melhores atuações foram exatamente contra os clubes europeus (naqueles confrontos que estávamos ansiosos para assistir), como nos empates de Palmeiras e Fluminense diante de Porto e Dortmund e nas vitórias de Flamengo e Botafogo contra Chelsea e PSG. Em todos esses jogos, ficamos com a impressão de que a distância técnica entre nossos clubes e os europeus (ou ao menos alguns times europeus "normais") não é tão assustadora quanto se imaginava.
No outro lado do espectro, algumas das maiores dificuldades foram encontradas contra adversários de escolas, digamos, emergentes -- caso da vitória suada do Botafogo sobre o Seattle Sounders e o aflitivo empate do Palmeiras contra o Inter Miami. Para além da obviedade de apontar certa soberba brasileira, também é interessante analisar esses obstáculos do ponto de vista técnico e tático. Porque, afinal de contas, um torneio mundial não se resume a Europa e América do Sul.
Apesar da eliminação, o Mamelodi Sundowns, por exemplo, que impôs algum tormento ao Fluminense, tornou-se uma grata surpresa em termos de desempenho. Se era quase certo que voltaria mais cedo para casa, o time treinado pelo português Miguel Cardoso resolveu que ao menos tentaria atrair os holofotes para o futebol sul-africano. Jogou quase em modo exibição -- e o fez demonstrando várias virtudes.
E, para pegar o caso dos outros representantes sul-americanos, ambos já eliminados, podemos ressaltar que o River Plate fez um primeiro tempo impressionante contra a Internazionale, enquanto o Boca Juniors, antes do papelão contra o Auckland City, teve atuação bastante digna quando enfrentou o Bayern. Esses recortes não foram suficientes para manter o futebol argentino no torneio, mas deixaram uma importante amostra de capacidade de competir.
É claro que numa competição que envolve os melhores times do mundo, ou ao menos, grande parte deles, para alcançar a decisão em algum momento será necessário se deparar com os cachorros grandes. No entanto, o desfecho dos cruzamentos se mostrou traiçoeiro com o Flamengo, que assim, não mais que de repente, se viu entreverado com o Bayern. Mas nem tudo será Oktoberfest em junho: os alemães podem ser favoritos, mas não é nenhum delírio cogitar um triunfo rubro-negro -- e o próprio time de Vincent Kompany sabe disso.
Após o preocupante jogo contra o Mamelodi Sundowns, o técnico Renato Portaluppi explicou que "às vezes é melhor você sofrer e conseguir a classificação do que querer jogar bonito e perder a classificação". Mas as duas coisas não precisam ser excludentes. O empate garantiu a vaga, mas a segunda colocação no grupo colocou no caminho do Fluminense nada menos que a Internazionale, atual vice-campeã da Europa. Como mentalidade a ser resgatada, ainda resta bem viva na memória a atuação diante do Borussia Dortmund, quando os tricolores mostraram a sua melhor versão.
No caso do duelo entre Palmeiras e Botafogo, o sabor da expectativa é agridoce: um brasileiro ficará pelo caminho, mas outro já garantiu lugar nas quartas de final. "Pelo menos assim não corremos o risco de uma eliminação massiva nas oitavas", comemora neste momento o mais pessimista dos apreciadores de futebol, enquanto pede um café sem açúcar e um pão sem manteiga. Na verdade, de tão equilibrado é possível usar um drible retórico para dizer que é um confronto acessível para ambos.
No mundo ideal e almejado, teremos três brasileiros nas quartas de final. Na vida real, e no que o campo deixou evidente até agora, já é possível dizer que o futebol brasileiro está usando a Copa do Mundo de Clubes como uma oportunidade valiosa para mostrar a sua capacidade e o seu nível atual.
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